segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Tribunal do Santo Ofício

Batmacumba!

Sim, o sino da igrejinha faz belém-belém.




Guia prático do comunista moderno.


Em 2007, faz exatos 90 anos do acontecimento da Revolução Russa, tanto a de Fevereiro de 1917 quanto a Bolchevique, expoente do ideal socialista. Paralelo a isso, temos quase duas décadas sem URSS e quase cinco décadas de resistência cubana, eventos históricos tão díspares mas entrelaçados por uma mesma ideologia. Para um, o fim do sonho de Lenin; ao outro, a relutância em assimilar o corruptível sistema capitalista. É nesse fragmentado quadro ideológico que me questiono se a esperança marxista sucumbiu perante a mais-valia ou se o furor revolucionário cessou ante a inércia e a alienação do senso comum.

Talvez Lenin ou Stalin tenham me incitado a isso. Dias desses estava estudando sobre a supracitada Revolução Russa quando encontrei um excelente artigo de Alexandre Moebius que trata justamente sobre o posicionamento de indivíduos que compartilham do projeto socialista no mundo atual, nesses tais de "tempos modernos" e "contemporaneidade" e etc. Na tentativa de inflamar os corações mais conformados, transcrevo o artigo aqui, para o deleite daqueles que sim, sonham com a ruína desse tal império norte-americano.

"O COMUNISTA MODERNO percebe que hoje nossa busca se resume a uma luta individual pela sobrevivência através do acúmulo de dinheiro. Ele sabe que as pessoas pensam que já que está tudo porcaria é bom salvar a pele antes que seja tarde de e salvar a pele significa estudar, pra depois trabalhar e ganhar bastante dinheiro pra ter um carro blindado, com seguranças, se possível, e viver num condomínio fechado.

O COMUNISTA MODERNO sabe que nossa liberdade se resume a podermos comprar e consumir aquilo que o mercado nos oferece, e só. Ele sabe que só poderemos votar em que devemos votar, só podemos querer uma profissão que devamos ter, só podemos querer ter e não podemos querer ser.


O COMUNISTA MODERNO sabe que o deus mercado tem todas as respostas. Por exemplo: você só tem uma garagem no seu prédio, mas tem dois carros. Qual carro fica na rua? O carro mais barato, pois se o roubarem o prejuízo é menor. Certo? Mesmo que o carro mais barato seja o da sua mulher ou da sua mãe e que ela corra o risco de ser assaltada enquanto estaciona, certo? Certo.


O COMUNISTA MODERNO sabe que nossas casas, quando temos uma, são todas parecidas e só nos servem para descansarmos enquanto não estamos trabalhando, ou melhor, pra descansarmos pra depois trabalharmos mais, pra que um dia paremos de trabalhar e já não saibamos o que fazer da vida que nos resta.


O COMUNISTA MODERNO sabe que aviões podem derrubar prédios e que a desigualdade gera violência. Sabe que não há prisões o suficiente e que a coisa que mais aumenta no mundo é o medo.



O COMUNISTA MODERNO acredita (sente) que todos deveriam ter o que COMER! Que todos deveriam poder gargalhar! Que um problema pode ser algo bom e que algo bom pode ser um problema. Sabe que uma luz intensa gera uma sombra intensa e que quanto maior a certeza menor o conhecimento.


O COMUNISTA MODERNO sabe que, muito provavelmente, você que lê este artigo não sabe o que é fome, miséria e ausência de perspectiva. Sabe que você não sabe o que é nascer num barraco cheirando a merda do esgoto a céu aberto.


O COMUNISTA MODERNO sabe que para a humanidade não existe UMA saída. Que a ilusão da existência de UMA saída é fruto da lógica fácil do capital, da lógica simples e elementar do dinheiro que promete tudo solucionar. A saída deve ser procurada, nunca ser encontrada, não há limites para a felicidade também. "



Foda-se a moda.

Para fazer um simples casaco de pele, dezenas de animais pagam com suas vidas em nome da vaidade humana. Animais que são impiedosamente tirados de seus habitats, de seus filhotes, de seus pais são presos por armadilhas, afogados, eletrocutados, envenenados em fazendas de pele podendo ficar por muitos dias presos até que os "assassinos" venham buscá-los. 1 a cada 4 animais consegue escapar porém, com suas patas arrancadas ou mutiladas, morrem depois por perda de sangue, febre ou gangrena.

Para executar as mortes sem danificar suas peles, os animais são mortos por gás, envenenamento por estriquinina ou tem seus pescoços quebrados. Outro método muito usado é a eletrocussão anal, que consiste em colocar grampos nas orelhas do animal e um bastão metálico no ânus, por onde recebem uma descarga elétrica. Devido o grande sofrimento que esta descarga elétrica causa o animal tem uma parada cardíaca e ,geralmente, volta à consciência em alguns minutos. Esses métodos não são 100% efetivos e em muitos casos o animal acorda ainda consciente, enquanto está sendo esfolado. Essas mortes são qualificadas pelos "peleiros" como "trash kills". A tradução literal seria algo como: "matanças de lixo".

Animais necessários para 1 casaco de pele médio/normal:

25 arminhos;

10 chinchilas;

50 martas canadianas;

30 ratos almiscarados;

30 sariguéias;

30 coelhos;

27 guaxinins;

14 lontras;

30 raposas;

11 linces;

9 castores.






Eli, Eli, lamá sabactâni? Viva a Inquisição da esperança.

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sábado, 29 de dezembro de 2007

Tribunal do Santo Ofício

Concretismo
Projeto Verbivocovisual? Ora, baby, beba Coca-Cola.


+ "Pós-tudo", Augusto de Campos

+ "69", Victor Az.




+ "Lixo", Augusto de Campos.



+ "Tudo ao mesmo tempo", Victor Az.




+ "Poesia", Victor Az.



+ "Círio", Josué Vieira.

MENOR É PRESO POR PORTE POÉTICO
:: por Inquisição de Almeida

Uma poesia altamente pretensiosa quase foi escrita na noite de ontem na região central de Belo Horizonte. O menor J.M.S, de 20 anos, foi preso em sua própria casa enquanto compunha versos de libertinagem e ruptura à cultura retrógrada e conservadora vingente. Graças a denúnicas anônimas, a polícia chegou até o local, por volta das 22 horas, e autuou o infrator em flagrante. No quarto do menor foram encontradas várias poesias com alto teor revolucionário, uma ode calibre 38, grandes quantidades de estrofes-munição e de palavra-pólvora modernista. O jovem já foi preso e encaminhado ao Distrito Acadêmico do Santo Ofício onde será indiciado por atentado à ordem pública. A caneta e o papel utilizados no crime foram encaminhados para a perícia e, certamente, serão usados como provas no inquérito. Vizinhos do menor não quiseram se pronunciar sobre o ocorrido, apesar de demonstrarem medo em relação às atitudes vanguardistas do meliante.

Aplausos para os espíritos livres! Viva a Inquisição da contracultura.

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Tribunal do Santo Ofício

Pense rápido: produto interno bruto
ou brutal produto interno?


Sobre o erro do processo dialético e outras heresias

Bem e Mal coexistem? Eis o erro do processo dialético: se das trevas não pode vir a luz e, tampouco, da luz sobrevir trevas e, sendo Deus o Bem supremo, como pode ter surgido d'Ele alguma coisa tida como sendo o Mal? Se do Bem provém mais Bem, ora, imperfeições não seriam aceitas. De Deus a Nietzsche, o Bem é forte e o Mal é fraco. Não há natureza humana, logo Bem e Mal são conceitos tão abstratos quanto a veracidade dos fatos e o veredito da História.Talvez o maior trunfo do Diabo é fazer-nos pensar que ele não existe. Se o Mal não existe, que critério sustenta a idéia de que o Bem existe? A própria essência destes conceitos os anulam.

Um minuto de silêncio ao estimado Kant.

Suponho que a existência nada mais é que um capricho divino, e tão certo nascemos quanto morreremos. E a questão é: em qual prisma se equilibra a existência? A onisciência divina acusa que a existência é cômica, infortunadamente cômica. Segundo a tradição bíblica, existe um livro no qual estão inscritos os nomes de todos aqueles que desfrutarão o "paraíso". Trata-se do livro da vida (Filipenses 4:3; Apocalipse 3:5; 13:8; 17:8; 20:12,15; 21:27), uma alusão metafórica à sapiência divina. No entanto, tal livro existe antes da formação do mundo. Ou seja, antes de existirmos. Conclusão: antes de sermos submetidos ao teatro da existência, nossa sina já vem determinada e incondicionalmente sentenciada. Isto é: se eu me esforçar ao máximo para receber o galardão da "salvação eterna", mas se meu nome não constar no livro da vida, algo previamente determinado acontecerá que justificará a minha condenação, fazendo assim a vontade de Deus e cumprindo os termos do livro da vida. Da mesma forma, pessoas que pelo critério divino jamais poderiam usufruir do "reino dos céus" serão condicionados por fator qualquer que desconhecemos e serão "salvas".Coloco toda a veracidade dos fatos, a coincidência do ser e a plausibilidade da vida à prova ante esta tese. Aliás, esse comentário por sinal também já não estava previsto?!

Um viva ao livro da vida.


Diagnóstico - Inquisição de Almeida

Sofro do mal de poeta:
tenho as mãos fechadas
e a cabeça aberta.


I wanna be Paris Hilton!

O luxo e os deleites de uma vida parasitária, desprovidas de qualquer culpa em função da inocência que o glamour e anos vivendo numa bolha Louis Vuitton podem conceder. Definitivamente, eu quero ser Paris Hilton! Estrelar meu próprio vídeo pornô, esbanjar todo o meu talento em um reality-show no qual posso provar que é possível sobreviver sem cartão de crédito e sandálias Prada, ser o ícone da futilidade da mídia e prova cabal do fétido cheiro da burguesia. Oh, my God! Deve ser muito difícil ser Paris Hilton. Cansei da minha vidinha consciente. Quanto mais eu penso em revolução mais me afasto do meu terno Giorgio Armani. O importante é o glamour, baby. Aplausos para Paris Hilton!

Anistia às mentes revolucionárias. Viva a Inquisição dos bons costumes.
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Tribunal do Santo Ofício

Everybody wants to be Hollywood


Eu não quero aparecer na tv. Eu apenas quero saber quando a maioria dos jovens vai parar de achar que a vida é um episódio de "Malhação". A juventude se tornou uma fase que já vem enlatada, pronta para o consumo diário de uma massa alienada que vegeta graças aos estereótipos criados pela mídia, sobretudo dessa referida série. Orgulho-me de nunca ter assitido a um episódio completo de "Malhação". No entanto, isso não enfranquece a minha argumentação por, supostamente, desconhecer esse seriado alvo de minha crítica. Eu poderia, certamente, até refutar o meu próprio argumento dizendo que não posso questionar algo que não conheço. Mas basta ter um pouco de senso crítico para perceber, em poucos minutos, o quanto a representação da realidade pelo ponto de vista de "Malhação" é distorcido, manipulado de tal modo a incutir na cabeça de seus jovens telespectadores um conceito errôneo de valores sociais, fato esse que transforma os mesmos telespectadores nesses jovens inertes.

Os personagens elaborados para essa obra ficcional caracterizam-se pela extrema futilidade de seus comportamentos. O uso de estereótipos - o casal perfeito que sofre a temporada toda, o garanhão sarado, o nerd, a vilã invejosa que destrói a vida de todo mundo, a amiga alternativa, o pobre que entra no colégio (que tem o irônico nome de "Múltipla Escolha") e sofre preconceito entre outros - infelizmente são de fácil assimilação. Logo, não é de se assustar que alguns jovens projetem parte de si na identificação com tais personagens, fato que é lamentável. O maior problema, porém, é a identificação da relação de causa/conseqüência na composição desses elementos: eles são criados por que essa é a visão que os autores têm da juventude ou só são incluídos na obra para representar dramaticamente tipos sociais que podem fazer parte do universo jovem? Para ambas as hipóteses, creio que é um erro subestimar o intelecto de qualquer cidadão, sobretudo o dos jovens, com uma fórmula tão gasta e inapta ao que se espera de alguém que tem plena percepção e consciência de que está na fase mais ativa e revolucionária da vida.

Aliás, alguém já viu algum personagem de "Malhação" pegando um ônibus? O que diremos dos aspirantes a big brother...



Fluxo de Consciência
17 de setembro de 2007: um jovem se masturba na lan house do edifício Maleta enquanto aprecia a doce e voluptuosa antropofagia de corpos masculinos. Previsão do tempo para os nossos corações: sim, teremos um dia ensolarado de metralhadoras, propício para derrubar mitos e deuses.





+ Indulgências

Ode Misericordiosa - Inquisição de Almeida

Se eu pequei, Senhor, logo me digas
pois jamais me terá por réu confesso
mal me ensinaste a pouco fé que eu professo
e quando a exerço mais se aparenta à intriga

Sou vil pecador e, talvez por isso, seu filho
ó, Senhor Altíssimo, excelso em grandeza
pareço mais contrito quando estou nas profundezas
ou Tu melhor me atendes quando finjo que me humilho?

Quisera que meu coração tão desordeiro
pudesse se sentir arrependido
e, ante a Ti, não ser tão ofendido
já que mais glória se recebe no madeiro

Tua grandeza, ó Senhor, não se disfarça
nela creio, ó Deus, e me deslumbra!
o quão sou grato mesmo estando na penumbra
que sendo luz e treva não me queima, como a sarça

Sou triste e humano e mui, mui indigno
de receber, Senhor, tuas bem-aventuranças
bem certa é a morte meu galardão de esperança
a justificar a Tua vontade, ó Deus tão digno.


Racismo é indício de burrice. Viva a Inquisição da alteridade.

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Tribunal do Santo Ofício

Sobre Pedro Moraleida


"Tomei meu último expresso.
Mais gozar: gozo do outro: suicida
Místico-louco"

A morte como o último gozo. A vida como o efêmero instante que antecede o apocalipse. Essas são as premissas do intenso e apaixonante trabalho do poeta e artista plástico Pedro Moraleida. Dotado de uma agressividade ora irônica, ora divertida, Pedro Moraleida jorrou arte intensamente durante sua breve vida. Nascido em Belo Horizonte e formado em Belas Artes pela Universiade Federal de Minas Gerais, esse artista possui uma obra muito singular, marcada por um forte questionamento da existência e dos paradigmas da arte e da cultura através da concepção do prazer (hedonismo) ou da recusa desse (símbolo da castração freudiana) e da assimilação do fim/morte/apocalipse iminente com o sexo, o orgasmo, o êxtase final que consome e liberta. Dentro da sua obra literária, destacam-se: "Pequena revelação acerca da arte hoje ou O artista deve ser um primata" e "Os 4 'conceitos' fundamentais do 'meu trabalho' ou O conceito fala por si mesmo o que não se pode falar deve-se calar". Como característica de sua verve, Pedro Moraleida escrevia seus textos empregando um alfabeto próprio, composto por um grupo léxico e tipográfico incisivo, de signos pontiagudos e extremamente angulares, revelando um personalidade inquieta e marcante. No campo das ilustrações, figuras druídicas como alegoria do comportamento humano e seres mitológicos fundidos a pessoas e a animais da simbologia bíblica, ora envolvidos por um tênue atmosfera pueril, ora compostos sob densos estratos de pornografia, expressavam o turbilhão de idéias que enchiam o imaginário artístico de Pedro Moraleida, sempre permeado pelo questionamento da função do artista enquanto assim o é, o papel da palavra como instrumento de arte e a fugacidade da vida e do prazer ante a iminência do apocalipse e a suposto conceito de salvação/condenação.
Pedro Moraleida se suicidou em 1999, aos 22 anos. A vida breve desse artista plástico belo-horizontino não o impediu de construir uma rica narrativa visual, quase como uma necessidade urgente de colocar para fora suas aflições, conflitos e a maneira como via o mundo. Embora conheça sua arte como mero admirador e, sendo assim, inapto a tecer comentários profundos e analíticos sobre ela, reconheço a maestria e ousada subjetividade de Pedro Moraleida, pondo-o como ícone de uma geração que infelizmente sonha amordaçada.










Para conhecer a obra de Pedro Moraleida, acesse: + http://www.cave.cave.nom.br/

Metalinguagem da forca

aparência (do Lat. apparentia).s. f., : aspecto; forma; figura; exterioridade; probabilidade; verosimilhança; sinal; vestígio; sintoma; ilusão; quimera; disfarce; contradição da essência; projeção inadequada de desejos intrínsecos ao indivíduo; simbiose de frustração pessoal com vontade de aceitação social; equívoco; falácia; incompatibilidade de egos.


NÃO à transposição do rio São Francisco. Viva a Inquisição da resistência.

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segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Tribunal do Santo Ofício



A coisa mais próxima de um estupro é um vernissage. A UFMG não é o meu país. A Folha de São Paulo não é o meu país. Nenhuma universidade é o meu país. Nenhuma curadoria, nenhum novaiorque define o perfil do meu país. O meu quintal é o meu país. A universidade bebe leite do caminhão. Eu vou direto na vaca. Arte é atitude, auto-retrato, perdas alquímicas, pequenas mortes. Faço arte para não tomar choque. A pintura é puta. Um artista só dispõe na verdade de sua origem e de suas magníficas deficiências. Esse é o seu inventário. Duchamp está para a pós-modernidade assim como Cristo está para o cristianismo. O cristianismo é a banalização de Cristo. 50% meu com 1000 seu. Não existe ética na dor. Poesia é alguma coisa que o poeta punhetou. Amor é como mágica: você sabe que é mentira e você não sabe onde a mentira está. Arte é uma máquina de fuder olhos. Deus é uma ilusão de semiótica. Metrô é confidente de desejos e meio de transporte que independe de referencial: tanto dentro quanto fora a vida sempre passa do outro lado. A mim basta ser o excesso de mim mesmo, autor e consumador do meu melhor divórcio.


Sobre Terezinha de Jesus


Certa vez me perguntaram se a história de Terezinha de Jesus era verídica. Como parte da cultura popular, seu teor folclórico sobrepõe-se a qualquer vestígio de verossimilhança; logo, deduzi que Terezinha poderia ter sido uma Maria, uma Dalva ou até um Francisco, para soar mais moderno. A resposta poderia ser assim tão simples caso eu não me impusesse o dever de pesquisar mais sobre a referida mulher, tão lembrada nas cantigas infantis. Chico Buarque já apresentou sua paráfrase de "Terezinha de Jesus", de modo a retratá-la como um arquétipo de mulher, que sonha, que se emociona, que quer se valorizada e que tem plena consciência sobre sua condição de mulher. Sob o ponto de vista de Terezinha, o autor analisa como esta contempla aqueles que lhe socorrem, evidenciando um certo ar de alteridade, determinando o discurso sob a voz da mulher e do desvendamento do processo de amadurecimento sexual dela.


"Teresinha" - Chico Buarque.

O primeiro me chegou
Como quem vem do florista
Trouxe um bicho de pelúcia
Trouxe um broche de ametista
Me contou suas viagens
E as vantagens que ele tinha
Me mostrou o seu relógio
Me chamava de rainha
Me encontrou tão desarmada
Que tocou meu coração
Mas não me negava nada
E assustada eu disse não.

Se Terezinha de Jesus realmente existiu, ela poderia ser assim, da forma que Chico Buarque a retratou. Ao menos eliminiria a visão frágil e desamparada de Terezinha de Jesus que a canção popular sugere. Tomando a intertextualidade como princípio, elaborei minha versão para "Terezinha de Jesus" que, ironicamente, não tem muita relação com Jesus, de acordo com minha paráfrase.

"Terezinha de Jesus" - Inquisição de Almeida.

Terezinha de Jesus
pôs-se a rezar o rosário
com o corpo ante a cruz
chamou Deus de vil otário
Aboliu os seus pecados
renegou sua salvação
e ao anjo renegado
entregou seu coração
Acordou da letargia
tão feliz pôs-se de pé
fez da morte, liturga
quando perdeu sua fé
Terezinha de Jesus
proclamou a perdição
afastando-se da luz
conclamava a Inquisição
O primeiro foi seu pai
o segundo, seu irmão
à fogueira também vai
quem Tereza deu a mão
Tendo a fé em seu custódio
não se fazia profana
crendo em Deus com tanto ódio
se tornava mais humana
Da igreja fez hospício
e do padre fez amante
desse novo Santo Ofício
fez da hóstia um purgante
A ignorância surge
da cabeça alienada
aos cegos o que mais urge:
Terezinha excomungada
Terezinha na fogueira
como bruxa e mulher
não, não será a primeira
questionadora da fé



Descanse em paz, Terezinha de Jesus.


(Contra)Reforma Ortográfica

Não, não querem que eu use a coifeusse. Querem que eu use a penteadeira. O abajour vai sumir do meu quarto. Mas a pior das despedidas será a do trema. Já o vejo em um esquecido jazigo, em alguma gramática qualquer meramente histórica. Vão parar a Flor do Lácio no tempo. Não, é só um teste para verificar se o que aconteceu com o latim vai acontecer conosco. Algumas alterações na Língua de um país não acarretam quase nenhuma conseqüência, digo, consequência. Basta lembrar que tais reformas são baseadas em questões políticas, em atos que reatam os laços colonizadores, segurando-nos pela língua, literalmente. Pior é se tais mudanças fossem pelo uso da linguagem, pelas intervenções que o cotidiano atribui ao grupo lexical de um idioma. Sim, esqueçamos que falamos brasileiro. Voltemos à gramatiquinha lusitana, ora pois. Papo bom é ficar questionando a linguagem da internet, esse atentado à pureza da palavra. Onde estará a solução? Na barriga do gorila (Macunaíma que nos ajude).


*foto de "Poema", de Joan Brossa + http://www.joanbrossa.org/



Fluxo de Consciência


Há muito o que se esperar da vida mas a vida não espera ela só alcança e eu só me canso. Talvez só o muito dessa vida é que espera ser muito, como algo muito esperado que quando não se alcança se cansa de ser muito pra se esperar. Tanto muito e pouca espera. Quem alcança sempre cansa. Às vezes quero ser a caixinha de música do João.


Abaixo todo e qualquer tipo de moralismo. Viva a Inquisição do desbunde.

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