sexta-feira, 26 de setembro de 2008
sexta-feira, 13 de junho de 2008
Tribunal do Santo Ofício
sexta-feira, 25 de abril de 2008
Tribunal do Santo Ofício
Designa-se como interferência qualquer recurso artístico que intervenha em um espaço público de modo a promover, por meio da crítica ou do humor, a ruptura com a linguagem urbana "de concreto" das grandes cidades e seus signos de imposição da ordem e da conduta. Dada a sua concepção, não só como recurso artístico mas como peculiar veículo de comunicação, uma interferência pode - e deve, por que não - ser avaliada como um gênero textual urbano. Em síntese, tais interferências são geradas sob a forma de pixações, grafites ou panfletos/colagens / bricolagens (linguagem verbal e não-verbal), que evidenciam uma estética fortemente influenciada pelo Concretismo e pela Poesia Marginal, tanto pelo apelo visual e posição espacial da palavra quanto pelo caráter anti-acadêmico.
Permeadas, na maior parte das vezes, por uma linguagem irônica e cômica, elaborada por meio de pastiches e paródias de elementos da cultura de massa (que remetem ao movimento Kitsch), as interferências possuem caráter inteligível, o que permite, quando devidamente avaliada, ter compreensão equivalente a um texto. Apesar de que, em algumas obras, verifique-se uma atmosfera niilista, na qual a arte é desprovida de mensagem e de nexos de compreensão: está lá por estar, para ser vista e pronto, isenta da necessidade de conceituação e interpretação. Ceci n'est pas une pipe?
Ao ser exposta nas ruas e ocupar espaços públicos, uma interferência urbana desvia o olhar comum dos transeuntes para outras possibilidades de expressão não vinculadas à linguagem cinzenta e comercial das grandes cidades. Além disso, uma interferência nunca se apresenta como obra final, pronta. Ironicamente, graças à exposição pública, tal obra está à mercê da ação do sol, da chuva, da poluição, de pessoas, vândalos e outros artistas / interventores. Todo esse processo agrega um valor característico único, uma vez que nenhuma interferência receberá o mesmo acabamento que outra.
Por esse motivo, perceba-se o quão são fugazes e passageiras a permanência dessas interferências artísticas em espaço público. Dentro dessa análise, vê-se um aspecto paradoxal da difusão dessas obras: a necessidade de registro e catalogação da produção de interferências urbanas em função da baixa vida útil que possuem em contraste com seu caráter marginal, que não almeja o reconhecimento tampouco a eternidade mas, talvez, cumprir irreversivelmente seu último intento: desaparecer para sempre como forma reacionária de ser/fazer arte.
As interferências apresentadas abaixo ainda estão em Belo Horizonte. Todos os créditos aos seus idealizadores, sejam individuais ou grupos de produção artística que, julgo, por ideologia, preferem o anonimato às luzes da ribalta.
quinta-feira, 10 de abril de 2008
Tribunal do Santo Ofício
A necessidade de saber a verdade ainda nos há de arrastar para muitas aventuras, essa célebre veracidade de que todos os filósofos falaram com veneração.
Quantos problemas nos tem levantado essa ânsia de verdade! Quantos problemas insólitos, graves, duvidosos! Descreve toda uma longa história e, no entanto, não parece que começou faz pouco tempo? Que perplexidade poderá provocar o fato de acabarmos por nos tornar desconfiados, de perdermos a paciência, de nos agitarmos impacientes? O fato de nos ter levado, devido a isso, com essa esfinge, a fazer perguntas? Afinal, quem vem aqui interrogar-nos? Que parte de nós mesmos tende "para a verdade"?
Realmente detivemo-nos por muito tempo perante a questão da causa dessa vontade, até que acabamos por ficar em suspenso perante uma questão ainda mais fundamental. Neste momento é que perguntamos pelo valor dessa vontade.
Considerando que queremos a verdade: por que não havíamos de preferir a não-verdade? Talvez a incerteza? Quem sabe a ignorância? Terá sido a questão da verdade que se nos apresentou ou, pelo contrário, fomos nós quem nos apresentamos a ela? Qual de nós é aqui Édipo? Quem a Esfinge?
Ao que parece, trata-se de um autêntico encontro de perguntas e pontos de interrogação. Afinal, quem diria que nos parece que o problema até agora nunca se pôs, que fomos nós quem primeiro dele se apercebeu, quem o encarou, quem arriscou atacá-lo? Eis que disso tudo há um risco a correr e também que nenhum risco nos parece maior.
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