quinta-feira, 10 de abril de 2008

Tribunal do Santo Ofício

Sobre essa tal de "verdade"

A necessidade de saber a verdade ainda nos há de arrastar para muitas aventuras, essa célebre veracidade de que todos os filósofos falaram com veneração.

Quantos problemas nos tem levantado essa ânsia de verdade! Quantos problemas insólitos, graves, duvidosos! Descreve toda uma longa história e, no entanto, não parece que começou faz pouco tempo? Que perplexidade poderá provocar o fato de acabarmos por nos tornar desconfiados, de perdermos a paciência, de nos agitarmos impacientes? O fato de nos ter levado, devido a isso, com essa esfinge, a fazer perguntas? Afinal, quem vem aqui interrogar-nos? Que parte de nós mesmos tende "para a verdade"?

Realmente detivemo-nos por muito tempo perante a questão da causa dessa vontade, até que acabamos por ficar em suspenso perante uma questão ainda mais fundamental. Neste momento é que perguntamos pelo valor dessa vontade.

Considerando que queremos a verdade: por que não havíamos de preferir a não-verdade? Talvez a incerteza? Quem sabe a ignorância? Terá sido a questão da verdade que se nos apresentou ou, pelo contrário, fomos nós quem nos apresentamos a ela? Qual de nós é aqui Édipo? Quem a Esfinge?

Ao que parece, trata-se de um autêntico encontro de perguntas e pontos de interrogação. Afinal, quem diria que nos parece que o problema até agora nunca se pôs, que fomos nós quem primeiro dele se apercebeu, quem o encarou, quem arriscou atacá-lo? Eis que disso tudo há um risco a correr e também que nenhum risco nos parece maior.

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